O traumatismo crânio-encefálico constitui a principal causa de óbitos e seqüelas em pacientes politraumatizados; entre as principais causas estão: “Acidentes automobilísticos 50%, assaltos e agressões 12%, quedas 21% e esportes 10%” (NICHOLAU, 1994 p.387). Uma das complicações mais comuns aos pacientes vítimas de traumatismo crânio-encefálico (TCE) é a infecção, principalmente a pulmonar. “As unidades de terapia intensiva tiveram sua origem na década de 1960, durante a guerra do Vietnã, quando os soldados feridos e em estado crítico precisavam de um atendimento rápido e eficiente para que não tivessem a saúde mais prejudicada e corressem risco de morte. Atualmente com menos de quarenta anos de existência, tiveram e ainda têm grande repercussão dentro das instituições hospitalares e vêm desde então acompanhando as evoluções técnico - cientificas que ocorreram nesse período” (HUDAK, 1998).
A assistência de enfermagem ao paciente de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), dirige seus esforços no sentido de promover, manter e recuperar a saúde, de prevenir a doença, de aliviar o sofrimento, procurando assegurar uma morte tranqüila quando a vida não pode mais ser mantida.
A assistência de enfermagem é de fundamental importância para o paciente de UTI, dada a sua situação instável. Pois o domínio da técnica, conciliando com um cuidado humanizado e holístico, desvinculado do modelo biomédico e mecanicista, assistindo o ser humano de forma integral atendendo suas necessidades biopsicossociais, espirituais e favorecendo sua recuperação.
Os profissionais de enfermagem, principalmente aqueles que trabalham no ambiente de UTI devem utilizar técnicas assépticas na higienização traqueal especialmente de pacientes com TCE; realizar mudanças de decúbito, estar atentos aos monitores, estabilidade hidroeletrolitica e assepsias de modo geral. Devem ainda, criar um ambiente acolhedor para a família que certamente se encontra angustiada e apreensiva por ter um ente querido gravemente enfermo e ocupando um leito na UTI.
Diante de considerações outrora apresentadas busca-se realizar um estudo a fim de apreender um maior conhecimento sobre a temática em destaque, partindo do seguinte objetivo:
Investigar a importância da assistência de enfermagem ao paciente com TCE na UTI.
2 METODOLOGIA
Este estudo trata-se de uma revisão bibliográfica que “se constitui num procedimento formal para a aquisição de conhecimento sobre a realidade. Exige pensamento reflexivo e tratamento científico. Não resume na busca da verdade; aprofunda-se na procura de resposta para todos os porquês envolvidos pela pesquisa [...].” (MEDEIROS, 2008, p.43).
A pesquisa bibliográfica pode ser caracterizada ainda, como documentação indireta, constituindo-se em fonte secundária. É aquela que busca o levantamento de livros, revistas e artigos de relevante interesse para a pesquisa que realizar-se-á. Seu objetivo é colocar o autor
da nova pesquisa diante de informações sobre o assunto de seu interesse. “A pesquisa científica uma vez que elimina a possibilidade de se trabalhar em vão, de se despender tempo com o que já foi solucionado.” (MEDEIROS, 2008, p. 43).
Os dados empíricos deste estudo foram coletados no acervo da biblioteca da FACENE e FAMENE.
Vale ressaltar, também, que a pesquisadora levou em consideração os aspectos éticos contemplados nas normas vigentes da ABNT para construção desta revisão bibliográfica
3 TRAUMATISMO CRANIANO UMA DE REVISÃO DA LITERATURA
3.1 CONCEITO E TIPOS DE TRAUMATISMO CRÂNIOENCEFÁLICO (TCE):
“O TCE é qualquer agressão que acarreta lesão anatômica ou comprometimento funcional do couro cabeludo, crânio, meninges ou encéfalo.” (NASI, 1986, p. 460). Essa é uma das principais causas de morte no adulto jovem, tendo uma incidência de 500 mil casos/ano. Cerca de 10% desses doentes morrem antes de chegar ao hospital. Dos TCE que recebem cuidados médicos 80% são leve, 10% moderado e 10% grave.
Segundo Nicholau (1994) os tipos de traumatismo crâncioencefálico são:
3.1.1 Traumatismo Cranianos Fechados:
É aquele que não apresenta ferimentos no crânio ou existe apenas fraturas linear. Podem ser divididos em:
A) Concussão: Sem lesão estrutural macroscópica do cérebro, onde há uma breve perdida de consciência depois do traumatismo, sendo atribuída por uma desconexão funcional entre o tronco cerebral e os hemisférios e geralmente recobre a consciência antes de 6 horas; apresenta equimose no lado do impacto (lesão do golpe), ou contralateral (lesão de contra golpe)
B) Contusão/ Laceração Cerebral: Há perda da consciência mais longa que com a concussão. Pode ocasionar a morte ou déficit neurológico residual grave. Contusão cerebral, edema, hemorragia e necrose. Podendo haver sangramento subaracnóide.
C) Hemorragia Epidural Aguda ou Extradural: Ocorre várias horas após a lesão e levam ao coma, depressão respiratória e morte, a não ser que seja tratada por evacuação cirúrgica. O paciente apresenta cefaléia intensa, sonolência, convulsões e déficits focais. O sangramento é devido ao rompimento da ARTÉRIA MENÍNGEA MÉDIA OU SEIO DURAL e o hematoma é visível na tomografia de crânio.
D) Hemorragia Subdural Aguda: Apresenta clínica semelhante à hemorragia epidural, porém o intervalo antes do aparecimento dos sintomas é maior. O tratamento é através de cirúrgia. O sangramento é proveniente do rompimento
E) Hematoma/Hemorragia Cerebral: É gravíssimo, desenvolve-se logo após a lesão, se assemelha a hemorragia hipertensiva.
3.1.2 Fratura com Afundamento do crânio:
O pericrânio está íntegro, porém um fragmento de osso fraturado está afundado e comprime ou lesiona o cérebro.
3.1.3 Fratura Exposta do Crânio:
Os tecidos pericrânianos foram lacerados e que existe uma comunicação direta entre o couro cabeludo lesionado e o parênquima cerebral através dos fragmentos ósseos afundados ou estilhaçados e a dura mater lacerada.
3.2. TIPOS DE LESÕES DE ACORDO A GRAVIDADE:
Segundo Marenza e Ribas (1994) se classificam em:
3.2.1 Lesão Primária
É a ruptura direta do tecido cerebral, no momento do impacto. A lesão primária pode resultar em contusão, hemorragia e/ou laceração, estas respondem por aproximadamente por 50% dos óbitos associados ao TCE. Infelizmente não exite nemhum tratamento para ruptura mecânica súbita do tecido cerebral.
3.2.2 Lesão Secundária
Refere-se a alterações tardias, tanto sistêmicas como intracranianas, que podem ser atribuídas à lesão traumática inicial. As complicações intracranianas tardias incluem: Os hematomas intracranianos (subdural, epidural e parenquimatoso), bem como o edema cerebral generalizado, que resulta em aumento da pressão intracraniana (PIC).
3.3 MANIFESTAÇÕES CLINICAS:
As manifestações clínicas do TCE dependem da extensão e localização da lesão cerebral. A queixa de dor persistente com sinal de localização indica a ocorrência de uma fratura.
Durante avaliação clínica de uma vítima de TCE alguns sinais indicam a localização da fratura. As fraturas localizadas na base do crânio freqüentemente produzem sangramento nasal e na faringe e ouvido, podendo aparecer sangue sob as conjuntivas.
As fraturas de localização no crânio são indicadas pela perda de líquido cefalorraquidiano pelos ouvidos (otorréia), e pelo nariz (rinorréia). A evidência de sangue no líquido cefalorraquidiano é um forte indicativo de laceração ou contusão cerebral.
3.3.1 Hematoma extradural
Quase sempre é de localização temporal no qual o paciente apresenta período de lucidez, que compreende o período do trauma até o aparecimento dos sinais de compressão encefálica, tais como: anisocória, hemiparesia contralateral, aumento da pressão intracraniana que evolui com vômitos em jato, taquicardia e diminuição da consciência.
3.3.2 Hematoma subdural agudo
O paciente evolui com perda progressiva da consciência em virtude do aumento da PIC e geralamente é de localização parietal e frontal.
3.3.3 Hematoma intraparenquimatoso
Localização temporal e frontal, há lesão compacta de sangue dentro do parênquima cerebral, apresenta sintomas compressivos.
3.4 MÉTODOS DE DIAGNÓSTICO:
Segundo Nicholau (1994) para realizar a avaliação neurológica inicial de um paciente, vítima de TCE, deve ser enfatizada a escala de Glasgow que está descrita a seguir:
3.4.1 Escala de coma de Glasgow
Avalia o nível de consciência do paciente, permitindo que os clínicos pontuem a gravidade da lesão, e monitorem a recuperação do paciente desde o estado inconsciente, até o estado consciente. Esta escala pontua três tipos de respostas: abertura do olho, melhores respostas motoras, e resposta verbal.
A abertura do olho é observada e pontuada conforme ocorra espontaneamente em resposta à fala, à dor, ou se não abre o olho absolutamente.
Dentro da categoria motora, usa-se uma escala de
A fala do paciente é classificada da seguinte maneira: normal com conversação orientada, palavras confusas, inadequadas, sons (grunhidos e gemidos) ou nenhuma vocalização.
Esta escala vai de
FONTE: NICHOLAU, 1994, p.387.
3.4.2 Exames subsidiários
A) Raio X de crânio nas incidências ântero-posterior e lateral: as fraturas da convexidade são geralmente bem visíveis, mas as fraturas da base podem ser vistas em menos de 10% dos casos;
B) Tomografia computadorizada: quando paciente apresenta distúrbio de consciência, sinal focal ao exame, convulsão pós-traumática, fraturas, insuficiência respiratória e/ou circulatória. A tomografia computadorizada de crânio pode demonstrar fraturas, hematomas intra e extra-cerebrais, áreas de contusão, edema cerebral, hidrocefalia, e sinais de herniação cerebral;
C) Angiográfico encefálico: permite diagnóstico de processos expansivos traumáticos. É indicado para avaliar lesões vasculares no pescoço ou na base do crânio;
D) Eletroencefalogramo (EEG);
E) Potenciais evocados (auditivo, sômato-sensitivo e visual);
F) Ressonância Magnética (RM): permite verificar a presença de lesões de difícil visualização à tomografia computadorizada, como hematomas subdurais, além de definir melhor a presença de edema. Entretanto, é um exame prolongado, o que dificulta a sua realização de rotina em pacientes com TCE;
G) Monitorização da pressão intracraniana: a partir da análise da pressão liquórica subaracnóidea ou intraventricular, através da utilização de parafusos ou catéteres conectados a transdutores pressóricos e a instrumentos de medida e de registro.
3.5 TRATAMENTO:
3.5.1 Tratamento cirúrgico: Craniotomia descompressiva.
3.5.2 Tratamento clínico
A) Busca estabilizar o paciente hemodinamicamente;
B) Manejo e proteção da via aérea, ventilação controlada, para manter pCO2 normal ou baixa.
Avaliação apropriada para cirurgia (menor de 4 horas após o traumatismo).
C) Manutenção do fluxo sanguíneo cerebral.
D) Tratamento da hipertensão intracraniana (PIC): Elevação da cabeceira da cama a maior de 30º e manter em aproximadamente entre 45º para favorecer a drenagem venosa.
E) Hiperventilação para manter pCO2 entre 25 – 30 MMHG.
F) Administrar manitol 1g/kg de peso, na emergência, seguidos de novas doses, a intervalos 1 – 3 horas para manter osmolalidade sérica de 295 – 305 mmol. Furosemida 0,5 mg/kg com o objetivo de produzir maior desidratação e diminuir a produção de liquido cefalorraquideo.
G) Craniotomia descompressiva para remover hematomas ou tecido cerebral necrótico, durante o procedimento a equipe deverá ter atenção especial em relação à posição da cabeça, para evitar compressão venosa jugular e obstrução do fluxo venoso craniano.
H) Profilaxia das crises convulsivas para impedir aumento da PIC associadas à convulções.
3.6 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE COM TRAUMATISMO CRÂNIANOENCEFÁLICO:
Nas primeiras 48 horas a equipe de enfermagem deve estar atenta ao escore de Glasgow, ao padrão respiratório e aos níveis da PIC (normal menor 10 mmHg) já que uma “elevação da PIC a maior de 20 mmHg em um paciente em repouso, por mais do que alguns minutos, está associada a um aumento significativo da mortalidade; essa atenção da enfermagem permite intervir rapidamente, evitando complicações.” (GARCIATR, 2000, p.680).
Quando o paciente estiver adequadamente sedado e a PIC se manter estável, a mudança de decúbito deverá ser realizada de dois em 2 horas, se a PIC apresentar oscilações, este procedimento deverá ser realizado com cautela.
O balanço hídrico deverá ser monitorizado atentando-se para o volume urinário e as medidas da pressão venosa central (PVC).
“A nutrição enteral deve ser iniciada após 48 horas de admissão na UTI, estar atento à presença de ruído hidroaéreos (RHA) e distensão abdominal. Nos pacientes que apresentar fraturas de base de crânio, a sondagem nasogastrica ou enteral deve ser feita via oral e não via nasal, pois podemos provocar infecções do tipo meningite e para as aspirações deve ser usado o mesmo critério, não realizar aspirações nasal nestes pacientes.” (GARCIATR, 2000, p.680).
Estar atento à prescrição de soluções, visto que, a infusão de soluções contendo dextrose, especialmente dextrose a 5% e água, é contra-indicada no tratamento agudo do paciente com TCE, pois favorece o aparecimento de edema cerebral e quando este não está presente e agrava aquele já existente.
3.7 COMPLICAÇÕES MAIS COMUNS
A) Lesões Vasculares: hemorragia, trombose e aneurisma.
B) Infecções: osteomielite, meningite e abscesso.
C) Otoliquorréia.
D) Pneumocele.
E) Lesões de nervos cranianos.
F) Lesões focais no cérebro.
G) Diabetes insípida.
3.8 SEQÜELAS FREQUENTES
A) Crises convulsivas
B) Psicose
C) Epilepsia
D) Síndrome post-traumática.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da realização desta pesquisa, buscou-se identificar os tipos de traumatismo cranianos mais freqüentes, índice de mortalidade e a assistência de enfermagem aos pacientes vítimas de TCE grave na UTI.
O desenvolvimento desta pesquisa favoreceu a identificação de um perfil errôneo na assistência de enfermagem no ambiente de UTI principalmente aos pacientes portadores de TCE, visto que, em experiências vividas no passado observou-se,um processo de assistência de enfermagem mecanizado, não tomando precauções necessárias junto a este grupos de pacientes,levou à complicações graves.
Procurou-se estabelecer as principais medidas de prevenção para os enfermeiros que lidam diretamente com essa clientela, otimizando e garantindo qualidade no atendimento.
Portanto, o planejamento das ações e a atuação da equipe de forma interdisciplinar no manejo de pacientes críticos possibilitam um melhor conhecimento sobre a temática em estudo, assim como, uma assistência de enfermagem de qualidade e humanizada. Diante do exposto percebe-se que o pronto e adequado atendimento favorecem uma maior sobrevida a esses pacientes, podendo evitar uma internação prolongada, apesar da recuperação de um paciente com TCE ser lenta.
REFERÊNCIAS
GARCIATR, N. M. M. L. Sistematização da assistência de enfermagem: reflexões sobre o processo (livro resumo) In: Anais 52º Congresso Brasileiro de Enfermagem, 2000. Recife: Associação Brasileira e Enfermagem, 2000.
HUDAK, C. M.; GALLO, B. M. Cuidados intensivos de enfermagem: uma abordagem holística. 6ª ed. Rio de Janeiro: Artes Médicas, 1997.
MANREZA, L. A; RIBAS, G. C. Traumatismo crânio-encefálico. In: NITRINI, R.; BACHISCHI, L. A. A neurologia que todo médico deve saber. 3ª ed. São Paulo: Santos–Maltase, 1986.
MEDEIROS, L. A. Redação Científica: a pratica de fichamentos, resumos, resenhas. 10ª ed. São Paulo: Atlas, 2008.
NASI, L.A.; FERREIRA, N. P. Traumatismo cranioencefálico. In: NENMA, B.S. et al. Rotinas em terapia intensiva. 2ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
NICHOLAU, D. Traumatismo crânio-encefálico. In: PARSONS, P. E.; WIENER- KRONISH, J. P. (Orgs.). Segredos